Felizmente o ano de 2023 será de recuperação

Antonio Everton Chaves Júnior.
Economista, Mestre em Economia Empresarial.

Os dados recentes acerca da economia brasileira formam uma imagem bastante positiva, esperançosa, caracterizando o período como sendo de recuperação. Principalmente, em decorrência do que se espera que venha acontecer neste segundo semestre. Vale ressaltar há bom tempo que a aura de otimismo não pairava com tanto entusiasmo. Pelo menos assim se expressam os indicadores de intenção de consumo e de confiança empresarial, batendo patamares superiores à pandemia.

Antes de jogar luzes no atual momento, e para justificar o quanto ele é importante, ao se fazer retrospectiva do produto interno brasileiro gerado nos últimos nove anos registra-se no intervalo tanto a pior recessão já vivida na história desta República, em 2015-2016, quanto os efeitos da pandemia que devastou o planeta, no ano de 2020.

Por terem sido momentos contundentes, esses três períodos destacaram-se negativamente comprometendo o desempenho geral de tal ordem que parece que a economia nacional ainda não conseguiu recuperar-se satisfatória e plenamente até hoje.

As variações do PIB entre 2014 e 2022 foram as seguintes: 2014 (0,1%); 2015 (-3,5%); 2016 (-3,3%); 2017 (1,3%); 2018 (1,8%); 2019 (1,1%); 2020 (-4,1%); 2021 (4,6%) e 2022 (2,9%).

Ao somar essas taxas, encontra-se como resultado algo muito ínfimo diante das características e riquezas de que o país possui. Isso se deveu, evidentemente, ao baixo nível de atividade devido à base fraca (2014-2016) e ao assolamento causado pela Covid-19 (2020).

Entre 2014-2022 o volume de riquezas criado no Brasil foi pífio, de apenas 0,52%, acumuladamente – resultado insignificante diante das necessidades de emprego, renda, aumento dos investimentos, melhor distribuição de renda e melhoria do bem-estar entre outras demandas de que a sociedade necessita.

A taxa de crescimento acumulado de apenas 0,52% em nove anos converge a reflexões que acabam por expor as escolhas da política econômica errada nos anos de 2015-2016, bem como o impacto da pandemia e suas consequências.

O dado de 0,52% possibilita outras inferências: também espelha o desempenho estagnado da economia em nove anos; retrata que as empresas em muitas ocasiões têm trabalhado mais para sobreviver, principalmente, porque a economia não consegue retomar o crescimento de forma sustentada; indica que o país ainda busca caminhos e soluções para remover ou superar entraves que freiam o ambiente mais propício ao investimento e desenvolvimento; e aponta para as micro e pequenas empresas, com ênfase para as franquias, como porta de entrada no mercado produtivo, com garantia da chancela da marca para que haja maior suporte diante das vicissitudes do mercado quando a conjuntura conspira desfavoravelmente.

Então, ao olhar para trás, entende-se por que  a concentração de expectativas muito fortes para o segundo semestre do ano em curso. Isso porque os agentes econômicos, depois de tantos momentos de dificuldades, desejam ingressar numa nova fase em que os negócios possam ser tocados com mais fluidez, menos desgastes causados pela conjuntura, menos incertezas, mais vendas e resultados maiores na conta bancária.

O PIB do segundo trimestre deste ano surpreendeu ao atingir 0,9%, quase três vezes mais do que o mercado esperava. A este dado somou-se a evolução do primeiro trimestre, cuja variação atingiu 1,9%. Em doze meses até junho o produto interno subiu 3,2%.

Quanto à trajetória da inflação e sua repercussão sobre os orçamentos familiares tem-se nos sete primeiros meses deste ano acúmulo de 2,99%; e, em doze meses, cerca de 3,99% de alta. Ano passado, entre janeiro e julho os preços em geral bateram 4,77%; e no acumulado de doze meses atingiram 10,7%.

Além disso, as prévias do mercado apontam para a continuidade do movimento desinflacionário; ou seja, ao que tudo indica a inflação deve continuar a crescer menos a cada ano até estabilizar-se num padrão aceitável e menor. Para 2023, até o presente instante os analistas estimam que fique em 4,92%; ao passo que projetam manutenção da tendência de arrefecimento para 2024 (inflação de 3,88%); 2025 (de 3,50%) e 2026 (de 3,50%, igualmente).

Outro dado relevante nessa situação é o dos juros, cuja tendência também é de queda. Isso porque com o Brasil esperando safra recorde acima de 300 milhões de toneladas com soja, milho e trigo protagonizando aumento espetacular de produção, muito provavelmente o item alimentação pesará menos relativamente sobre os gastos das famílias e sobre a composição do índice de inflação. Por consequência, mais uma super safra cumpre papel, devendo ajudar a estabilizar a inflação nos níveis esperados, oportunizando espaços para a flexibilização dos juros.

Com base nisso e noutros indicadores é que o mercado espera a Selic desça a 11,75% até dezembro; e depois prossiga nos cortes até atingir 9,00% ano que vem; para depois estacionar em 8,50% tanto em 2025 como em 2026. Com esses movimentos esperados e sucessivos de queda da inflação e dos juros, o Brasil poderia deixar o pódio daqueles países que praticam as mais altas taxas de juros reais para situar-se entre aqueles cujo padrão seria de 3,0% ao ano.

O cenário de inflação em declínio junto com os juros tem na contrapartida da geração de empregos o melhor desempenho das empresas, evolução do faturamento, forjando um espectro de aumento da confiança – seja por parte do empresário quanto dos consumidores que têm a sua renda aumentada e mais disposição para compras.

Em julho o Brasil criou novamente saldo líquido positivo do emprego. Foram mais de 142 mil vagas geradas. A locomotiva que impulsiona o mercado são as micro e pequenas empresas, caracterizadas pela empregabilidade em momentos favoráveis de expansão econômica, com mais de 70% das contratações. No acumulado do ano até julho, o saldo ultrapassou a criação de 1,17 milhão de postos de trabalho.

No bojo dessas percepções de melhora da atividade econômica tem-se como moldura a evolução dos indicadores de expectativas denotando maior confiança.

O cenário para o aumento das vendas centraliza nos benefícios estimados pela queda dos juros, diminuição da inadimplência, aumento da renda, desinflação e segurança no emprego os pontos de maior atenção para que isso possa acontecer.

 

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