Territórios são disputados constantemente neste sistema.
Por Douglas Nunes em 25 de junho de 2017
Estava procurando um filme para assistir neste final de semana e me deparei com um remake de “Sete homens e um destino”, originalmente filmado em 1960. Neste atual de 2016 tem como protagonista Sam Chilson, interpretado por Denzel Washington. A estória se passa em 1879 na cidade de Rose Creek, após a guerra civil americana, uma cidade cuja economia é baseada na extração do ouro, foi fundada por famílias que perderam parentes nos combates e se instalaram ali para um recomeço. Porém, apesar de ter todos os papeis bem definidos que permitam o seu perfeito funcionamento, há um explorador das minas de ouro, Bartholomew Bogue, que usa de todo o seu poder econômico e seus capangas para promover o medo e comandar a cidade. Na verdade, Bogue está interessado no território e riqueza que provém destas terras.
Numa das suas inserções violentas na cidade, momento em que os moradores estão tentando se organizar para combatê-lo, onde ainda há divisões de opiniões, uma parte a favor do enfrentamento e outra do não enfrentamento, Bogue interfere e acaba matando o marido de Emma Cullen, uma fazendeira que após, se sentindo indignada e revoltada, contrata Sam Chilson, um caçador de recompensas, que por sua vez faz um recrutamento e seleção de mais 6 homens para confrontar o poder instalado pelo Bogue e libertar os moradores de Rose Creek da violência e medo provocados. Todos os selecionados com habilidades extraordinárias e convencidos do propósito de defender os moradores da cidade e restabelecer a ordem e justiça.
Entre os recrutados pelo Sam Chilson o caçador de recompensas e líder do grupo, está o jovem Josh Faraday jogador de cartas, atento a tudo atira e acerta sem pestanejar, Vasques um foragido, atira habilmente com as duas mãos, Billy Rock um oriental, especializado no uso de facas, Goodnight Robicheaux ex-soldado, condecorado e atira com rifle como ninguém, Jack Horne um homem das montanhas, extremamente forte usa machado contra os inimigos e Red Harvest um índio da tribo comanche, certeiro no uso do arco e flecha.
O filme se desenrola como todo bom faroeste com várias cenas de tiros, dinamites, confrontos, na visão do bom diretor Antoine Fuqua. Após executarem o planejamento com emboscadas cronometradas, heróis combatem e até se sacrificam pelo propósito. No final restam três dos sete homens, Bogue e seus capangas são todos mortos, extirpando de vez as agruras dos moradores de Rose Creek. Os três homes restantes seguem seu destino e deixam a cidade, talvez em busca de outros desafios como este. Agora vamos fazer um paralelo com o sistema de franquia e entender como a briga por território entre franqueadores e franqueados, até entre os próprios franqueados, remetem a várias destas cenas do filme. Primeiro contextualizar para melhor interpretação, associando da seguinte forma, Rose Creek seria a área de atuação do Franqueado, os moradores seriam franqueados e colaboradores, Bartholomew Bogue o franqueador e os sete homens representam os interesses dos franqueados. Imaginem então trazendo para o mundo dos negócios e para a realidade, conforme o que tem ocorrido recentemente e está noticiado, há sim uma prática que permite ao “Bogue” junto com seus comparsas implementar qualquer ação, usando seu poder econômico e a força, também os “moradores” não tem representatividade que os defenda, sendo necessário buscar ajuda montando frentes de atuação de última hora, já no meio de uma batalha, ou seja contratando os “sete homens”.
Claro que há um exagero nesta comparação, pois a violência não se mostra desta forma nos dias atuais, com tiros, dinamites, bombas, etc., mas este é o sentimento do franqueado que está passando por estas injúrias. Franqueadores ditam, com interesse nos territórios antes desbravados pelos franqueados. Enquanto vemos números de crescimento do segmento de franquias sendo publicados, não sabemos (ou sabemos) quais os meios utilizados para atingi-los. Há na verdade uma fragilidade no sistema em que nada impede franqueadores agirem como “Bogue”. Por outro lado, quando não há regras claras por parte do franqueador quanto à definição de limites nas áreas de atuação, como também um monitoramento das operações dos franqueados, deixa-se em aberto a invasão de áreas, provocando desconforto entre os próprios franqueados, gerando uma atmosfera de desconfiança e indecisões, assim como a cena em que os moradores estavam com opiniões divididas quanto a combater Bartholomew Bogue.
O mercado tem muitas oportunidades e quando o franqueador possui verdadeiramente o know how, tem as melhores intenções e mantém uma relação respeitosa e de consideração, não há necessidade de o franqueado contratar os “sete homens”, pois impera o bom funcionamento e todos progridem em paz. Porém quando há, por parte do franqueador, erros decisórios, know how insuficiente, relação desestabilizada, interesse nos territórios, falta de transparência, se instala o caos e faz- se necessário o franqueado buscar alternativas para trazer o equilíbrio de forças e como ainda não há uma representatividade legítima que os defenda, a busca é por encontrar pessoas que integrem uma equipe e formem a frente de combate dos “sete homens”.
Mas acredito que este fato pode e deve ter uma nova realidade, é preciso que franqueados criem sua frente de batalha em definitivo e montem a equipe dos “sete homens”, que estarão unidos em torno de seu destino. É preciso ter uma representatividade, um grupo, com grandes habilidades e que se complementem. Não há como ficar apenas vendo franqueadores agirem como “Bogue”, criando conflitos, pressões e interesses por territórios antes desenvolvidos por franqueados dedicados. Uma nova história tem que ser escrita, um novo roteiro, um novo tema, que transforme a realidade atual e traga o equilíbrio desejado, tornando o sistema de franquia cada vez mais forte e perene, haverá de chegar este dia e quando chegar que seja digno de receber o Oscar!