O código da longevidade é digital e ESG

No primeiro dia do 7° Fórum Anual de Governança e Gestão da Fundação Dom Cabral, especialistas revelam aspectos positivos para o código da longevidade das médias empresas brasileiras

Antonio   Batista, presidente executivo da Fundação Dom Cabral | Foto por: Homero Xavier/FDC

por Redação setembro 26, 2022

Tornar as médias empresas brasileiras longevas é um desafio que o 7° Fórum Anual de Governança e Gestão da Fundação Dom Cabral, em realização nesta semana no campus Aloysio Faria, sede da instituição em Nova Lima (MG), está discutindo. “Um dos maiores desafios que o empresário enfrenta é manter a empresa viva, competitiva, perene e longeva. Por isso, estou muito feliz com este encontro, que não acontece há três anos por conta da pandemia e cuja energia é importante para este avanço”, destacou Antonio Batista, presidente executivo da Fundação Dom Cabral. 

Várias estatísticas mostram que as empresas brasileiras precisam buscar diariamente a perenidade e, para isso, algumas agendas são fundamentais, na visão do executivo. “A primeira é a performance, que ajuda as empresas a se tornarem produtivas e competitivas. E este é o pilar da estratégia empresarial, que precisa ser robusto para apresentar vantagem competitiva e diferenciada”, disse.

O segundo pilar é o da governança. No caso das médias empresas, ele é mais desafiador, à medida que a maioria dessas organizações é familiar. “O terceiro pilar é o de processos inovadores, no qual as empresas precisam se diferenciar na oferta de produtos e serviços”, disse. Um quarto diz respeito à equipe de alta performance, de modo que “nenhuma empresa é maior que a cabeça de seus executivos e, para alcançar longevidade, é preciso ter um time forte, coeso e com uma cultura corporativa poderosa”, disse.

Atualmente, segundo Batista, as organizações precisam agir para além da busca por performance, incluindo o que ele chama de “agenda do progresso”. Trata-se de algo ligado à sustentabilidade, pois as organizações têm sido chamadas a cumprir um papel que há pouco tempo não existia. “Agora, elas não podem ser apenas um agente de desenvolvimento econômico, como era no século XX. É preciso ser também agente de desenvolvimento de bem estar social, ambiental e de governança (ESG)”, define o presidente executivo da FDC. 

Digitalização, descarbonização e educação

Para o economista e ex-presidente do BNDES, Luciano Coutinho, o mundo mudou e as médias empresas brasileiras estão diante de grandes desafios para se tornarem longevas no novo cenário. “As prioridades para a retomada do vigor empresarial pós-pandemia são: digitalização, inserção internacional, sustentabilidade energética e ambiental, educação, treinamento e renovação de equipe”, definiu ele.

Luciano Coutinho | Foto por: Homero Xavier/FDC

A pandemia e o cenário geopolítico impuseram novas dificuldades, que exigirão ainda mais preparo dos empresários brasileiros, segundo Coutinho. “Tivemos uma pandemia 100 anos depois da gripe espanhola e agora temos uma guerra (na Ucrânia) que não sabemos onde vai parar. Ao mesmo tempo, vivemos uma transformação digital que veio muito rápida. Afinal, a internet em massa tem cerca de 20 anos apenas, e o telefone celular ainda menos”, disse. 

Nos países mais desenvolvidos, mais de 90% dos habitantes já estão conectados e a expectativa é que, dos 8 bilhões de habitantes, entre 6,5 e 7 também o estejam até 2030.

Por outro lado, ele aponta que o avanço da conectividade na indústria 4.0, principalmente com o advento do 5G, pode ampliar ainda mais a distância econômica do Brasil para países desenvolvidos, a não ser que encampemos um plano claro e eficiente de digitalização e eficiência das cadeias produtivas. 

Ele avaliou que a digitalização torna os processos melhor controlados, acumulando dados para estatísticas de mercado e também para evolução do aprendizado de máquina (machine learning). “Junto a isso, temos o processo dramático da mudança climática e entendo que se a temperatura global subir mais de 1,5 °C, como tenta impedir o Acordo de Paris, as consequências serão enormes”, disse.

Isso mostra que as empresas, assim como governos e a sociedade, precisam pensar na descarbonização. “Não há volta nesse caso”, afirmou Coutinho, que ainda aponta o déficit educacional deixado pela pandemia como mais um ponto de dificuldade para a longevidade das empresas brasileiras, inclusive no que tange a formação de especialistas para os mercados digitais.

O Brasil, segundo ele, está distante dos países desenvolvidos mais avançados na digitalização industrial, como EUA, Japão, Alemanha e a China, a quem ele coloca neste grupo. “Em relação aos seus pares em desenvolvimento, o Brasil está em uma posição intermediária. Temos aqui alguns avanços, mas eles estão em cadeias dominadas por companhias transnacionais”, diz. 

A avaliação do executivo é de que precisamos ampliar a digitalização para as cadeias de suprimentos e outras indústrias nacionais, a fim de que possamos ser de fato competitivos. “Se não agirmos, corremos o risco de exclusão digital e ambiental, perda de renda e bons empregos, dependência de commodities e produtos primários (o que é um retrocesso histórico, que, diga-se de passagem, estamos vivendo atualmente)”, salientou.

Pontuando a perda de parque industrial brasileiro – a indústria, que chegou a representar 20% do PIB nacional, hoje responde por 11% – Coutinho avalia que temos urgência de agir pela longevidade das empresas se quisermos ter competitividade e retomar o desenvolvimento industrial para melhor inserção e competitividade internacional, energética e ambiental. “Precisamos ter atenção às lições deixadas pela pandemia, como a necessidade de manter um complexo industrial de serviços de saúde capaz de prover a população em necessidades básicas, como os respiradores mecânicos que precisamos importar por meses no início da pandemia”, disse.

Jose Fernando e Selma Rodrigues | Foto por: Homero Xavier/FDC

Depois, a jornada para a transformação digital é, para o especialista, acessível e inevitável. “As empresas brasileiras precisam entender que é um processo que pode ser feito paulatinamente. Começa-se enxuto e depois se avança”, disse. “A indústria inteligente é um processo, que parte de uma avaliação de otimização do parque existente para depois iniciar um caminho mapeando a indústria, evoluindo para a automação, digitalização, integração e, aí então, o conceito de indústria inteligente”.

Para Selma Rodrigues, diretora executiva na Fundação Dom Cabral, a longevidade das empresas pode ser comparada à longevidade humana, em uma reflexão na qual ela pontuou as nossas necessidades físicas de alimentação, exercícios, atuação social ativa e a capacidade de gerenciar o estresse. “Identificamos que o otimismo e o segmento de um propósito na vida provêem longevidade. O mesmo vale para as empresas”, concluiu. 

Fonte: https://sejarelevante.com.br/o-codigo-da-longevidade-e-digital-e-esg/

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