Gestão, crescimento das vendas e atração de clientes são as principais dificuldades das MPE do país

ASN Nacional11/10/2023 às 10:46Atualização11/10/2023 às 14:55

Economia & Política

Mapeamento do projeto Varejo Inteligente Conecta Brasil, do Sebrae e da CDL/BH, ouviu mais de 1.300 MPE

Por Redação

Das mais de 21 milhões de empresas em atividade no Brasil, 95% por cento delas são micro e pequenos negócios, incluindo os microempreendedores individuais. O segmento é responsável por 30% do Produto Interno Bruto (PIB), de acordo com o Sebrae, e dos quase 1,9 milhão de empregos gerados em 2022, 72% foram criados por essas empresas.

Ainda que os números sejam grandiosos e revelem o enorme potencial econômico das micro e pequenas empresas (MPE), existem alguns fatores cotidianos desses empreendedores que ficam escondidos. Um mapeamento realizado pelo projeto Varejo Inteligente Conecta Brasil, parceria do Sebrae e da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), elencou esses obstáculos com 1.334 MPE de todo o país. Ao serem questionadas sobre quais são os desafios recorrentes enfrentados no dia a dia de suas empresas, as principais respostas foram referentes à gestão do negócio, crescimento das vendas e atração de clientes. Também foram citados problemas com recursos financeiros, pessoal (mão de obra) e produtos.

Para o presidente do Sebrae, Décio Lima, o programa Varejo Inteligente vai ao encontro do que o pequeno negócio precisa.

A maioria dos empreendedores já tem a capacidade técnica, faltando apenas uma orientação e aquele impulso para virar a chave e crescer. Essa é a função do Sebrae, mostrar o caminho da boa gestão e desmistificar a inovação, com sustentabilidade e inclusão, trazendo uma mudança de mentalidade para o dia a dia. Percebemos que as barreiras enfrentadas por esses empreendedores refletem, acima de tudo, uma necessidade de apoio e fomento ao empreendedorismo do país.

Décio Lima, presidente do Sebrae Nacional.

Gleice Martins montou seu Negócio – um empório de geleias, doces e biscoitos – em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, em plena pandemia. Ainda que a empresa esteja alcançando bons resultados, a empreendedora enfrenta problemas como o aumento do tíquete médio. “Nossa maior dificuldade é aumentar o valor médio de consumo de cada cliente, o que, proporcionalmente, impacta no desempenho das vendas. Outro desafio é crescer a cartela de clientes para gerar e manter o capital de giro”, afirma a participante do projeto Varejo Inteligente Conecta Brasil.

Ainda de acordo com Gleice, o desafio de crescimento da empresa esbarra em outro obstáculo, a carga tributária. “Minha empresa passou de MEI para o Simples Nacional, onde os tributos são maiores. Isso nos trouxe um aumento das despesas que precisa ser absorvido pelas vendas do dia a dia”, destaca a proprietária do D’Casa Sabores.

Para alavancar as vendas, Gleice Martins tem investido em ações como tráfego pago, listas de transmissão no WhatsApp, inserção da empresa nos aplicativos de entrega e variedade do mix de produtos. “Chegamos a um ponto em que é necessário outra visão do negócio, pois estamos imersos nos problemas do dia a dia. Nós também somos operacionais. Para empreender é necessário conhecimento, e sigo em busca do que ainda desconheço para melhorar meu negócio”, diz.

As barreiras enfrentadas pelos micro e pequenos empresários, muitas vezes, estão relacionadas à falta de capacitação técnica. Essa escassez reflete na gestão, no aumento de vendas, no faturamento, e em outros pontos como estoque e controle de caixa.

Marcelo de Souza e Silva, presidente da CDL/BH e do Conselho Deliberativo do Sebrae Minas.

Ainda segundo o dirigente, esse mapeamento reforça o levantamento do Sebrae que mostra que a maioria das empresas morre em até cinco anos por falta de capacitação.

Avançar em três, quatro anos o que era esperado para dez ou 15

Além das dificuldades práticas, os participantes do projeto também sinalizaram sensibilidade a temas como mudanças do mercado, novas demandas dos consumidores, concorrência, acompanhamento das evoluções tecnológicas e recursos financeiros limitados, além da inovação. “Com os novos cenários econômicos e comportamentais, os empresários precisaram avançar em três, quatro anos o que era esperado para dez ou 15. Em empresas de pequeno porte esse impacto é ainda maior, pois os recursos financeiros e humanos para se adequar são bem menores”, avalia Marcelo de Souza e Silva.

Esse é o caso da empresária Mariza Trevizan, produtora rural que trabalha com a fabricação de temperos e especiarias e participa do projeto Varejo Inteligente Conecta Brasil. O negócio de Mariza, o Empório Mariza Sobre Rodas, está localizado em Boituva, interior de São Paulo, e enfrenta a adaptação às novas tecnologias, inovação e posicionamento digital. “Percebi que meu negócio não possui uma presença efetiva no digital. As demandas do dia a dia da empresa exigem muito tempo. Contudo, entendo que, nos tempos atuais, para se pensar na expansão de uma empresa é fundamental estar atento a isso. Entendi que ficamos à deriva caso não se invista nessa questão. É como caminhar sem norte, com a expectativa de chegar a algum lugar, mas sem alcançá-lo”, avalia.

A empresária destaca ainda que a rotina do negócio é também uma barreira a ser vencida. “Entendi que um dos meus maiores desafios é otimizar o tempo e desapegar do cotidiano do meu negócio. Na maioria das vezes, ele nos prende e nos impede de estar aberto às mudanças. Isso está ligado à nossa zona de conforto, que é um lugar seguro, mas ao mesmo tempo limita nossa prosperidade. Acredito que se abrir para a inovação é uma dor enfrentada por todos os empreendedores”, analisa.

Tentativas de mudança e gestão do tempo

O mapeamento do projeto Varejo Inteligente Conecta Brasil também revela que a maioria das MPE não buscou alternativas para sanar os problemas. E, entre os que tentaram algo novo, o efeito esperado não foi alcançado. Grande parte dos micro e pequenos empresários sinalizou que experimentou novos produtos e matérias-primas diferentes para variar o catálogo oferecido, mas não obtiveram êxito. Também foram citadas ações de marketing digital com foco nas mídias sociais.

Nesses casos, a falta de conhecimento técnico também resultou no insucesso. Entretanto, ao longo dessas ações, pontos positivos foram alcançados como melhoria nos processos gerenciais e, principalmente, o reconhecimento da necessidade de capacitação.

As alternativas procuradas pelos empreendedores vão ao encontro das principais dificuldades vivenciadas, o que é muito positivo, pois mostra que esses profissionais têm consciência sobre onde podem evoluir e o que realmente falta para eles é a oportunidade de estudo e gestão do tempo. A falta de tempo, inclusive, foi um dos gargalos apontados no mapeamento. Muitas MPE enxergam a boa gestão do tempo como um grande desafio.

Pós-pandemia

As grandes economias mundiais ainda estão se recuperando dos efeitos da pandemia e com as micro e pequenas empresas brasileiras não é diferente. A maioria dos relatos apresentados no mapeamento traz informações sobre quedas nas vendas, redução da cartela de clientes, concorrência do online com o físico, entre outros.

“Os micro e pequenos empresários ainda sentem as mudanças criadas pela evolução do comércio on-line. Muitos ainda não conseguem cobrir os preços praticados pelas lojas virtuais e também têm dificuldade para implantar um e-commerce. A adaptação ao novo comportamento do consumidor e a transformação das lojas físicas são temas de atenção para as MPE”, finaliza o presidente da CDL/BH e do Sebrae Minas, Marcelo de Souza e Silva.

Capacitação

O Varejo Inteligente Conecta Brasil é a nacionalização do projeto Varejo Inteligente, criado em 2016 pela CDL/BH e pelo Sebrae Minas, que tem como proposta apoiar as empresas da capital mineira e Região Metropolitana no caminho rumo à inovação. A edição mineira do programa já realizou sete edições e atendeu 126 empresas, 125 startups e, por meio do transbordo, impactou mais de 2.200 pessoas.

Na edição nacional, que teve início em fevereiro deste ano, 900 empresas de todo o país serão beneficiadas. A pré-seleção reuniu 3.300 pessoas, distribuídas entre MPE e microempreendedores individuais. Dessas, 1.300 foram qualificadas e, a partir dos critérios exigidos pelo projeto, 900 foram selecionadas para a etapa de aceleração, na qual são promovidos workshops, oficinas, consultorias individuais para as micro e pequenas empresas e conexão com startups. Todo o processo de aceleração é customizado a partir dos desafios das empresas selecionadas.

A quarta e última etapa, Foco 4, será um evento aberto ao público no modelo híbrido (presencial com transmissão online), no dia 31 de outubro, onde serão entregues os resultados do projeto, reconhecimento das CDLs, das micro e pequenas empresas e das startups mais engajadas.

Fonte: ASN – Agência Sebrae de Notícias

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