Entre julho, agosto e setembro a economia brasileira encolheu -0,1% na comparação com o trimestre anterior. O período de abril, maio e junho também foi decepcionante, uma vez que o PIB declinou -0,4% frente ao desempenho do primeiro trimestre deste ano, o qual subiu 1,3% diante dos três últimos meses do ano passado.
As duas variações negativas sucessivas permitem classificar que o Brasil entrou em recessão (técnica). Dois trimestres de queda posicionaram a economia nessa fase do ciclo – conforme ensinam os manuais de ciência econômica.
Se confirmadas as previsões, depois de retrair-se -4,1% em 2020, a economia nacional vai conseguir recuperar-se muito pouco neste ano. No começo de 2021 ainda se esperava crescimento da ordem superior a 5%. Agora, com os últimos dados as prévias apontam para algo entre 4,3% e 4,6%.
Portanto, um retorno à normalidade (considerando a vacinação massiva e a mobilização das pessoas) em patamar produtivo muito aquém do que se esperava inicialmente e bem próximo do nível dos acontecimentos da época pré-pandemia – em fevereiro do ano passado.
Frustração poderia ser o vocábulo que melhor exprimiria a sensação para as taxas do PIB divulgadas recentemente pelo IBGE. Na régua do tempo a partir de 2017, esse sentimento tem-se repetido anualmente na medida em que a economia não decola, mal consegue variar acima do padrão de 1%.
Para o PIB estimado em R$ 8,04 trilhões, o valor adicionado pelas cadeias produtivas acaba sendo muito baixo diante do potencial que a economia brasileira possui para crescer.
Dependendo do setor observado, indo um pouquinho mais para atrás no tempo, tem-se a impressão de que a crise instalada no biênio 2015-2016 ainda não se dissipou plenamente, sinal óbvio de que não foi superada, que o volume de produção ainda patina nos moldes do verificado dez anos atrás. Depois da década de 2010, será que virá mais uma década perdida?
Recapitulando, naqueles dois anos (2015-2016) a contração produtiva no país atingiu mais de 7%. A partir daí, então, o país passou a registrar aumentos anuais do produto interno somente na faixa de 1%, como mencionado antes incrementos reconhecidamente tímidos para enfrentar problemas nacionais maiores, tais como aqueles relacionados com emprego, pobreza e geração de renda, desequilíbrios entre as regiões, a questão fiscal e a dívida pública, com seus efeitos sobre os mercados.
A âncora recessiva daquele biênio equipara-se a um carro querendo andar com freio de mão puxado, impedindo por conseguinte maior velocidade, impulso do volume de crescimento. Além da questão estrutural da desigualdade socioeconômica, o fato tem muito a ver com o desarranjo das contas públicas, déficit fiscal e nível de endividamento interno. Essas situações há tempos determinam a necessidade de se promover aumento da carga tributária e de se fazer ajustes nas finanças do setor público a fim de que o Estado possa retomar a sua capacidade de investimento social e produtivo, visando atender o que a sociedade demanda bem como os setores produtivos.
Com a Covid-19 pode-se arriscar para dizer que o que era ruim tornou-se pior; isto corresponde a aludir que o país ingressa na fase crítica da crise sanitária com situação fiscal bastante prejudicada e deve sair da mesma – quando a pandemia gripal ficar dominada – com ela deteriorada.
Ao mesmo tempo, não bastasse, as mudanças climáticas no globo terrestre impuseram uma crise hídrica que não se via há anos; também, incertezas políticas influenciaram a volatilidade do câmbio; e vice-versa; além disso, durante a fase de retomada verificou-se a desorganização dos mercados mundiais na formação dos preços em geral, atrapalhando, interferindo na geração de valor das cadeias produtivas globais, complicando mercados, causando desequilíbrios entre oferta e demanda nas negociações e seus resultados.
Com a crise hídrica tem-se que as termoelétricas foram acionadas gerando energia mais cara, desde já pressionando a inflação, presente e futura, redundando sobretudo no comprometimento da política de metas inflacionárias em 2021, bem como influenciando a formação de preços e expectativas do seu comportamento para2022.
Crise hídrica e climática mais preços internacionais bateram na agropecuária, encarecendo produtos originados, fazendo subir a inflação. Juntamente com essa dinâmica e o mar de incertezas de curto prazo, o dólar oscilou ficando mais caro; os preços dos combustíveis subiram (aqui e lá fora), assim como os da alimentação, fenômenos que acarretaram o encolhimento dos orçamentos familiares e mais dificuldades de consumo, conforme vem mostrando a pesquisa mensal do comércio do IBGE há três meses com sinais consecutivos (agosto, setembro e outubro).
Nesse bojo, o desemprego oficial em queda não consegue se traduzir fortemente no recrudescimento da renda, enquanto o comércio vai sofrendo com os prejuízos causados pela diminuição da renda por causa dos preços e da perda de poder aquisitivo.
Nessa perspectiva complexa, tem-se a continuidade da elevação dos preços nas fábricas e no atacado num ritmo superior ao do varejo, contexto que impõe ao comerciante dificuldades de repasse dos seus custos na ponta final do processo de venda ao consumidor, potencializando alta de preços no futuro. Essa percepção tem batido no comércio em geral, mas principalmente nas operações das franquias e dos shoppings devido ao custo de funcionamento nesses estabelecimentos conhecidos como templos de vendas.
Para complicar, ao tentar segurar preços e demanda a autoridade monetária prescreve que o aumento dos juros é necessário para estancar o processo. Processo no qual se insere a escalada do endividamento, seja por parte das famílias ou das pessoas jurídicas. Mais para frente é de se supor que relativamente aponta-se para o esgotamento desse ciclo de consumo e manutenção do padrão de vida e sustentação econômica.
Ainda não acabou. As vendas do Black Friday podem ter sido frustrantes, bem como poderão vir a ser as do Natal, principal e maior data comemorativa em termos de aumento do faturamento.
Por outro lado, felizmente nem tudo é pessimismo ou os cenários são formados somente por variáveis negativas. Segundo notícias, parece que estão contratados investimentos da ordem de R$ 700 bilhões para o ano que vem por parte das empresas gigantes; e, se tudo acontecer segundo se espera, deve finalmente entrar em funcionamento o 5G, banda larga que irá surpreender negócios e a vida das empresas, trazendo mais novidades e inovação na área da digitalização e computacional, seja de processos, seja de programas, estruturas, etc.
Ao mesmo tempo que a pandemia vai perdendo fôlego com a vacinação, as condições presentes tornam o exercício de 2022 mais desafiador, até porque haverá eleições presidenciais, dos governadores e nas casas do Legislativo.
Soltar um pouco o freio de mão do carro – que faz queimar pneus e queimar borracha – para andar em baixa velocidade parece ser tarefa para 2023, mesmo. Até lá, a extrapolação do teto de gastos vai compondo o alento para compromissos governamentais com programas de transferência de renda e ampliação das despesas públicas.
Assim, com esses fatores convergindo para formar o quadro real tem-se o cenário em que a economia poder a vir a crescer 0,5% ano que vem.
Antônio Everton Chaves Júnior
Economista Divisão Econômica
Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo – CNC