Confiança do comerciante continuou subindo em agosto

O Indicador da Confiança do Empresário do Comércio, o Icec, cresceu 4,3% em agosto contra julho. Foi a terceira elevação positiva e sucessiva do ano, depois das elevações  de junho (12,2%) e julho (11,7%), e de um período de cinco taxas negativas consecutivas no começo deste ano.

Na prática, esse resultado da série dessazonalizada reforça o otimismo dos comerciantes para com as vendas potenciais influenciadas pelo Dia dos Pais e as condições da economia. Essas e outras informações foram capturadas pela pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

Com o crescimento, o Icec subiu para 115,0 pontos, avançando consequentemente pouco mais de dois pontos percentuais dentro da zona considerada de satisfação, região acima da linha de indiferença de 100 pontos.

O Índice de Confiança do Empresário do Comércio

Nota: ICEC* é o índice dessazonalizado.

A taxa de agosto permite inferir expectativas empresariais para um segundo semestre mais benigno, considerando que em breve as vendas com as datas comemorativas do Dia das Crianças, Black Friday e Natal chegarão.

Como vem acontecendo desde junho, o subitem do Icec relativo às condições atuais do empresário do comércio tem-se constituído no principal vetor de alta (+10,6%), sobretudo por causa da percepção de que as condições da economia passaram a melhorar (+14,9%).

Além das perspectivas potenciais de crescimento das vendas com o Dia dos Pais no corrente mês, outros fatores contribuem para a percepção dos empresários. O aumento de circulação de pessoas nas ruas e a evolução da confiança dos consumidores em se dirigirem aos estabelecimentos comerciais graças ao aumento do número de vacinados contra a Covid-19. Depreende-se que a vacinação contra a doença acaba se tornando a imunização do comércio.

Outros fatores para explicar o Icec podem ser um possível cenário de manutenção da recuperação do emprego em gerl, seguido do crescimento da renda, bem como dos acréscimos sobre o faturamento do comércio em decorrência do pagamento da quarta parcela do auxílio emergencial para os mais vulneráveis.

Outrossim, pode-se considerar a existência de efeitos positivos da terceira versão do Pronampe para as empresas a fim de permitir sustentabilidade da atividade comercial. E, deve-se levar em conta a possibilidade de expansão das vendas pelo crédito.

Ao se comparar o Icec com o desempenho de agosto do ano passado, a elasticidade de 47,2% foi muito puxada pelo reconhecimento de que as condições atuais evoluíram sobremaneira (+149,9%) do ano passado para cá, notadamente por que a  economia tem dado sinais de melhora (-266,8%). Essa evolução acentuada confirma a melhoria das  expectativas e coloca o olhar sobre a crise no espelho retrovisor.

Desde o mês passado o Icec apresenta-se na zona de satisfação em todas as regiões, face à confiança generalizada a partir de então. Em junho a compreensão dos empresários no Sudeste (92,4 pontos) e no Nordeste (97,5 pontos) quanto ao desempenho dos negócios  caracterizava-se pela insatisfação. Em agosto, a confiança pode-se disseminar em maior escala no Sudeste (+6,5%) e no Nordeste (+4,1%), em virtude das expectativas maiores, como por causa da base de comparação ser menor em pontos.

Relativamente, a confiança empresarial expõe-se com maior lastro entre as médias e grandes empresas, as que empregam mais de 50 funcionários (124,0 pontos).

Em conjunto, o comportamento do Icec foi mais motivado pela avaliação positiva das micro e pequenas empresas (+4,4%) do que das médias e grandes (+0,8%).

No tocante às condições atuais do empresário do comércio, os empresários responderam que a situação vem se apresentando melhor; sendo que a maior alta relativa coube ao segmento de menor porte (+10,8%).

Nesse aspecto, a percepção positiva das condições atuais de comercialização para as empresas menores levaram à ascendência do subíndice em 152,9% frente ao resultado do mesmo mês de 2020, variação muito superior à revelada pelas médias e grandes (+70,6%).

A confiança do empresário do comércio vem crescendo em todas as categorias, com maior elasticidade entre os comerciantes vendedores de produtos semiduráveis (5,6%). O motivo da alta mais forte do que as demais categorias de uso pode estar associado à maior circulação de pessoas nas lojas bem como à chegada do inverno mais rigoroso em algumas áreas do país.

Os produtos semiduráveis de maneira relativa estão associados ao consumo presencial, à experiência da compra e ao experimento pessoal (sapatos, roupas, agasalhos, entre outros). Assim, o otimismo maior entre os comerciantes pode ter a ver com a característica dos produtos semiduráveis, cujas vendas foram muito atingidas ao longo do processo de combate à Covid-19, sobremaneira quando as lojas ficaram fechadas e mais para a frente com o distanciamento social e a cautela dos consumidores.

O reconhecimento de que as condições gerais para o empresário melhoraram recentemente passa pela compreensão de que a trajetória da economia tem impulsionado a formulação de expectativas mais francas para o desenvolvimento dos negócios nesse final de ano.

A pesquisa da CNC retrata um bom momento da confiança empresarial, derivando perspectivas bem maiores para o final deste ano do que no ano passado. Com isso, estima que o volume de vendas do varejo poderá crescer acima de 5% em 2021 sobre 2020, que se confirmada será a melhor taxa desde dezembro de 2012 (+8,3%).

O dado final do comércio em 2021 vai ter a ver com o baixo ritmo de expansão da economia nos últimos anos, com os acontecimentos no ano passado e uma base comparativa relativamente baixa.

Ao mesmo tempo que o segmento de franquias comerciais e os shoppings se inserem na onda otimista do crescimento da confiança, toda cautela é pouca por causa das variantes do vírus da Covid-19 e de uma possível retração da intenção de consumo.

A inflação tem pressionado preços no atacado, o governo tem calibrado os juros para cima, o dólar tem oscilado, há preocupação política, a questão fiscal pode atrapalhar a recuperação da economia e o mercado de trabalho tem-se revelado lento para reduzir o nível de desemprego.

Autor: Antonio Everton Chaves Júnior, economista Divisão Econômica da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC)

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