Tem muita gente espantada com a velocidade das transformações provocadas pelo coronavírus. O comércio, em especial, está enfrentando um dos maiores desafios da sua história. A digitalização acelerada, a reformulação dos processos e a autonomia e empoderamento do consumidor fizeram com que pequenos empresários aprendessem em três meses o que outros levaram anos para entender.
Enquanto esse processo se estabiliza, outras revoluções vão ganhando forma, e não estamos falando de efeitos advindos da Covid-19. Trata-se de inovações na área bancária e de pagamentos que estão sendo gestados no Banco Central, em particular no que diz respeito ao Sistema de Pagamentos Instantâneos, que promete revolucionar o mercado.
O pagamento instantâneo, de serviços ou produtos, simplesmente substitui o dinheiro e cartões, de crédito ou de débito, por celulares ou outros dispositivos eletrônicos, que concretizam as transações por meio da internet. A maior diferença é que a transferência é imediata.
A funcionalidade ganhou o nome de PIX no Banco Central e estará disponível ao público a partir de novembro. O sistema não vai valer apenas para empresas e órgãos públicos, mas impactará toda a população, inclusive os desbancarizados.
Vários países já adotam esse tipo de pagamento. Na China, por exemplo, é raríssimo encontrar maquininhas de cartões: as transações ocorrem livremente por meio de QR Codes e smartphones. “A China é o país mais avançado nesse novo sistema, mas o grande problema por lá é que duas empresas dominam o mercado e o dinheiro não transita entre elas. No Brasil não será assim”, explica Bruno Samora, gerente da B.U. de Retail da Matera, empresa que desenvolve produtos para core bancário, meios de pagamentos e gestão de riscos.
“O que diferencia o projeto brasileiro é justamente a capacidade de abranger todos estes modelos atuais de pagamentos, garantindo de forma democrática o acesso e a interoperabilidade entre os diversos participantes”, diz Bruno.
Quando questionado sobre quem serão os maiores beneficiados no Brasil, Samora é enfático ao dizer que o pagamento instantâneo será para todos. “O projeto que se desenha servirá desde o pagamento do churrasco do fim de semana com os amigos até o pagamento daquele imposto que hoje depende de uma guia específica de recolhimento. No futuro, será possível fazer um pagamento que efetive algum tipo de contrato ou documento. Que tal comprar o carro e junto com o pagamento já fazer a transferência num passo só? É esse tipo de conveniência que teremos”, analisa o especialista.
Varejo
O varejo, claro, vai ser um dos primeiros agentes da economia a sentir as mudanças. A primeira delas vai ocorrer nos custos das transações. Um pagamento com cartão, ao custo de 100 reais dentro de uma loja, por exemplo, passa, hoje, por diversos intermediários que participam dessa cadeia: banco, maquininha, bandeira, etc. Por isso, o comerciante não recebe os 100 reais, mas sim uma parte deles, que ainda levará dias para cair.
Todos esses custos são embutidos nos produtos, encarecendo o consumo para o cliente final. Com o pagamento instantâneo, além do dinheiro cair na conta automaticamente, os custos serão baixíssimos – menos de um centavo por compra – pois não existirão adquirentes, bandeiras e emissores de cartão, por exemplo, o que reduz os valores das mercadorias.
Outro impacto no comércio será a adequação ao método PIX nas frentes de lojas, de modo que seja possível gerar ou ler QR Codes, a forma de ativação do pagamento no novo sistema. “Esse sistema exige a habitação em praticamente todas contas de instituições financeiras e fintechs do país, sejam elas de pessoa física ou jurídica”, diz Samora.
“Estamos falando que tanto o consumidor que frequenta os estabelecimentos quanto os fornecedores, terão contas correntes que realizam e recebem um PIX, conectados em tempo real no que chamamos de “Internet das Contas”. Diz o especialista. Isso vai permitir ao varejista realizar mais vendas com recebimento à vista, sem depender de intermediários como as atuais bandeiras e adquirentes”.
Bruno diz que haverá um esforço de transição razoável para lojistas e consumidores. “Num exercício rápido, quando eu tiver que pagar um supermercado, poderei escolher entre usar o cartão, que requer a maquininha, tarifas e todas integrações e conciliações envolvidas para garantir que a adquirente capturou e pagou o supermercado”.
Uma das principais limitações para a tecnologia no Brasil será o costume do brasileiro em usar o cartão físico, mas Bruno acha que essa barreira poderá ser vencida pela praticidade e agilidade que o pagamento instantâneo. “A boa notícia é que, em última instância, o beneficiado será o consumidor. Com a pandemia da Covid-19 e as orientações para se evitar pagamento com dinheiro, as pessoas estão começando a entender melhor os benefícios que a tecnologia traz”, finaliza.
Fonte:CDL CONTAGEM