O balanço de Americanas de 2021 saiu da marca de maior lucro da história da companhia para um rombo de R$ 6,2 bilhões e vai precisar de muito mais que apenas uma mudança administrativa para se recuperar. A varejista divulgou nesta quinta-feira (16 de novembro de 2023) os resultados financeiros dos últimos 2 anos, depois de muitos adiamentos.
Para o estrategista-chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz, os dados divulgados hoje mostram uma situação de uma empresa quebrada.
“Um prejuízo bilionário. Se já víamos como ruim os prejuízos das Casas Bahia e, recentemente, os da Magazine Luíza, o de Americanas é pior que todos eles”, explica o estrategista.
Se o reconhecimento do rombo em 2021 já era ruim, de acordo com o balanço divulgado, em 2022 o prejuízo da varejista mais do que dobrou. A Americanas fechou o ano passado com R$ 12,9 bilhões no vermelho. A companhia diz que “os números das demonstrações financeiras também refletem, agora, a estimativa mais realista e transparente da realização dos ativos e passivos da companhia, com a necessidade de ajustes e provisões adicionais”.
Além dos balanços anteriores com correções, a companhia ainda divulgou as projeções para 2025 levando em conta uma eventual aprovação do plano de recuperação judicial, que deve ser decidido em uma assembleia-geral de credores, marcada para acontecer no dia 19 de dezembro. Paola Mello, que é sócia e analista de ações da GTI, explica que mesmo que seja aprovado o plano de recuperação, o patrimônio negativo ainda será de R$ 3 bilhões.
“Virar um patrimônio negativo em R$ 3 bilhões para positivo no caso de uma empresa que a gente já viu que, ao longo de sua vida, nunca gerou resultado, até porque se a gente tirar esses contratos fictícios ela só deu prejuízo do início ao fim, então é uma coisa que me deixa bastante cética. Fora que a reputação da empresa já está arranhada no mercado!”
A mensagem da atual administração divulgada ao mercado junto com o balanço é vista como positiva se considerarmos que eles pegaram uma empresa após uma fraude de R$ 25,2 bilhões. Também é positiva toda a vontade de fazer o que no mercado chamamos de turnaround, ou seja, uma reestruturação.
“Existem algumas vendas de ativos que eles podem fazer, aqueles ativos non core (que não fazem parte da operação principal da empresa), que já estão à venda e existem alguns mecanismos também que podem ser acionados como, por exemplo, a recompra da dívida abaixo do valor de face, aonde parte da dívida ainda fica com a empresa e isso dá um ganho contábil”, sugere Paola.
Porém, ainda existe o problema da falta de credibilidade dos fornecedores e também dos clientes, o que no caso de uma grande varejista, não se recupera apenas com a mudança de uma administração.
“Vai ser difícil sair dessa! Se fosse uma fraude gigantesca em uma empresa de commodities, que já tem uma outra mina ou plataforma para explorar, até seria mais factível reverter a situação, como a própria Petrobras já fez. Mas na Americanas, envolve muito a confiança do consumidor,” lembra Gustavo Cruz.
Apesar dos números ruins divulgados, as ações de americanas acumulam alta de mais de 20% essa semana. É importante lembrar que devido ao baixo valor de tela dos ativos, qualquer variação de centavos leva a grandes mudanças percentuais no papel.
Americanas tem prejuízo de R$ 13 bilhões em 2022
Fonte: CNN