A Crise Hídrica

Os reservatórios de água que concentram algumas das principais hidrelétricas do Brasil estão passando por um período de esvaziamento. Ao que parece, a escassez de chuvas no país para a geração de energia é a pior em 91 anos. Tal cenário encarece a produção energética, atingindo a produção e a população.

O déficit do nível d`água é severo, especialmente para os estados onde se localiza a bacia do Rio Paraná: São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul e Paraná.

O pouco volume de chuvas durante os primeiros meses de 2021 intensificou preocupações, já que as chuvas de verão – importantes para garantir a recarga dos mananciais e atravessar com segurança – não deram conta de elevar o nível dos reservatórios.

O primeiro semestre de 2021 terminou com 68% do volume de chuvas esperado no Sistema Cantareira e 72%, no Alto Tietê. Somados, os dois reservatórios fornecem água para 12,5 milhões de pessoas na região metropolitana de São Paulo, sendo somente o Cantareira responsável pelo abastecimento de 46% da população da Região Metropolitana de São Paulo.

A recorrente escassez das chuvas vem contribuindo para o cenário. Este é o oitavo ano consecutivo em que a estação chuvosa fica abaixo da média. Especialistas atribuem ao desmatamento da Amazônia, aquecimento global e ao fenômeno natural La Niña.

Se a temperatura média do planeta subiu já 1 ºC devido à queima de combustíveis fósseis e à derrubada de florestas tropicais, hoje tende a subir mais se medidas de contenção e de sustentabilidade do clima do planeta não forem seguidas. As mudanças climáticas têm consequências muitas vezes imprevisíveis em escala global, abalando a vida e o equilíbrio dos ecossistemas. É como se o planeta respondesse às agressões que vem sofrendo.

Os fenômenos La Niña e El Niño provocam alterações significativas nos padrões de precipitação e temperatura. Entretanto, ao contrário do El Niño, o La Niña reduz a temperatura das águas da superfície oceânica nas partes central e oriental do Pacífico Equatorial e altera o regime de vento nessa região, impactando o padrão de circulação geral da atmosfera em escala global.

Os seus efeitos no território brasileiro incluem a diminuição do regime de chuvas na região Sul do Brasil, principalmente, podendo repercutir em São Paulo dependendo de sua intensificação. A sua última ocorrência no país se iniciou no segundo semestre de 2020 e se estendeu até maio de 2021. Tanto o La Niña como a sua ausência, fase em que o Pacífico se encontra atualmente, aumentam o risco de chuvas abaixo da média, deixando certas áreas secas e causando problemas econômicos.

Vale ressaltar a dependência do Brasil das matrizes de energia hidrelétricas, com cerca de 63% dos recursos energéticos provenientes deste tipo de fonte.

Uma alternativa para o enfrentamento da situação passa pelo acionamento das usinas termoelétricas. Apesar de  não ter a produção afetada pelo clima, vez que funcionam à base de queima de combustíveis, a sua utilização tem custo maior. Estima-se que com as termelétricas, o custo de R$ 9 bilhões recairá sobre o consumidor, possivelmente com aumento de 5% na tarifa de luz.

A esse respeito o preço da tarifa vem pesando nos orçamentos domésticos, atingindo decisões, escolhas e mudanças de hábitos. No acumulado de doze meses terminados em julho a energia elétrica residencial já subiu perto de 21%. O reajuste de julho (9,41%)  acentuou a taxa acumulada nesse período.

Assim como vem acontecendo com as famílias, com os lojistas de shopping e de franquias não deve estar sendo diferente, ao depararem com valor alto da conta de luz. Insumo importante para os negócios, o custo da energia vem aumentando a sua influência e participação na formação dos preços dos produtos vendidos. Isso vale tanta para a energia do estabelecimento quanto para a do condomínio.

Nesse aspecto, o encarecimento da energia tem impactado população e o setor produtivo, visto que a energia é essencial para o desenvolvimento da sociedade. Como consequência, os custos de bens e serviços, nos setores primário, industrial e terciário, também aumentam, abalando atividades relacionadas ao comércio de bens, serviços e turismo, assim como as franquias.

Tais fatores contribuem para a elevação da taxa de inflação entre outras implicações adversas, considerando a retransmissão sobre os setores do repasse do custo energético até chegar na ponta para o cliente final.

Apesar do quadro ruim, evita-se cogitar crise de abastecimento. Entretanto, as autoridades da área enfatizam que é importante o uso consciente da água, a fim de que se evite desperdícios.

Enquanto as perspectivas denotam uma realidade sem maiores alarmes até o momento, vai ser necessário o país planejar estrategicamente formas de produção de energia ampliando a participação de energia limpa e diminuindo cada vez mais a dependência das chuvas. O fenômeno é sério e pode se tornar irreversível se não for atacado imediatamente.

Autores: Antonio Everton Chaves Júnior (economista) e Stella P. Gonçalves (estagiária), Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC)

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