Três grandes nomes dos restaurantes apareceram com destaque no noticiário econômico recente. Razões diferentes levaram as empresas aos jornais, mas que podem resultar no mesmo desfecho: novos donos desses nomes conhecidos nos almoços e jantares dos brasileiros.
A primeira marca em evidência foi a Starbucks. Em novembro do ano passado, a SouthRock Capital — que além da cafeteria, opera as marcas TGI Friday’s e a Eataly no Brasil — entrou com um pedido de recuperação judicial após constatar dívida de R$ 1,8 bilhão.
A Zamp, empresa que controla o Burger King no Brasil, demonstrou interesse na cafeteria. Após rumores de uma potencial compra da Starbucks, uma negociação foi revelada e, no final de abril, a SouthRock disse que aceitou uma proposta não vinculante da controladora do BK.
Ou seja, as partes vão conversar e o Burger King pode avançar para os cafés com a marca mais famosa do mundo do setor. E, assim, manter a marca Starbucks viva no Brasil.
“As partes se comprometeram a envidar esforços para, caso a companhia apresente uma proposta vinculante, negociar e celebrar documentos definitivos detalhando os termos e condições da aquisição dos ativos Starbucks Brasil, a qual estará sujeita aos procedimentos da recuperação judicial”, citou a empresa em comunicado.
Quando pediu recuperação judicial da Starbucks, nem todos os ativos operados pela SouthRock foram incluídos no processo.
Em março desde ano, porém, a operadora ampliou o processo de recuperação judicial com o braço que operava a marca Subway no Brasil.
Nos Estados Unidos, a controladora da marca Subway alega ter rescindido o contrato de franquia com a empresa brasileira em outubro de 2023, retomando o controle de suas operações no país.
“Dessa forma, o pedido de recuperação judicial apresentado por algumas entidades do grupo Southrock afeta apenas tais entidades e não diz respeito à Subway Corporate”, disse a sede norte-americana em comunicado.
A sede – que informa ter retomado a operação brasileira – diz que continua comprometida com o crescimento e o sucesso da marca no país. Em outras palavras, nada muda nos balcões, nem nos pães de 15 cm ou 30 cm.
Starbucks e Subway enfrentam problemas no Brasil, nas filiais operadas por uma empresa brasileira.
“O Subway e o Starbucks têm problemas com a operadora aqui, a Southrock. É ela que está mal”, diz Luís Fernando Guerrero, advogado especialista em recuperação judicial e professor no Ibmec.
O ponto de vista é complementado por João Lucas Tonello, analista da Benndorf Research, que cita que “os problemas parecem mais relacionados à operação dessas empresas e à gestão de suas dívidas”.
O terceiro caso envolve o restaurante famoso pelas filas nos fins de semana: o Outback.
Nesse caso, porém, o problema está na sede, nos Estados Unidos. E o Brasil aparece como uma possível solução para a matriz.
A filial brasileira é a mais importante para a marca fora dos Estados Unidos. As vendas no Brasil representavam 80% de todo o faturamento fora dos EUA da dona da marca, a Bloomin’ Brands.
No primeiro trimestre de 2024, a sede do Outback registrou prejuízo de US$ 83,8 milhões. Os números se referem ao resultado global, já que não há detalhamento geográfico do resultado financeiro.
Junto com o prejuízo, a Bloomin’ Brands informou que pode vender a operação brasileira. A controladora do Outback não deu detalhes sobre os objetivos dessa eventual negociação.
Entre multinacionais, é comum que, quando as sedes têm dificuldades financeiras, filiais lucrativas sejam vendidas para tentar estancar a crise, como explicou a própria Bloomin’ Brands aos seus investidores.
“[A companhia] está explorando e avaliando alternativas estratégicas para os negócios da companhia no Brasil que têm potencial de maximizar valor para os acionistas.” É vender os anéis para não perder os dedos.
As filas nos restaurantes Outback mostram que, no Brasil, a marca ainda tem apelo com o público. E a eventual busca por um novo dono significa que os restaurantes seguirão de portas abertas e, provavelmente, com mais fôlego para crescer.
O tamanho das filas nos restaurantes no Brasil não se repete nos EUA. Por lá, o conceito de casual dining – que é um meio termo entre o fast-food e os restaurantes tradicionais – tem enfrentado tempos difíceis.
O modelo vem sofrendo nos últimos anos com a pressão dos modelos fast-casual e fast-food, que crescem com preços mais baixos, milhares de novos drive-thrus e serviços de delivery popularizados na pandemia.
Outras marcas conhecidas deste conceito de casual dining são Applebee’s, Olive Garden e Red Lobster, entre outras.
De acordo com a Technomic, empresa de pesquisa do ramo alimentício, o casual dining caiu de 36% do total de vendas do setor alimentício americano em 2013 para 31% em 2023. Ou seja, perdeu clientes nos EUA.
A CNN entrou em contato com a SouthRock e o Outback e vai atualizar a matéria assim que tiver posicionamento das empresas.